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28
Outubro
2022
"A água está cá. Temos é de a gerir bem"

III Energy and Climate Summit juntou especialistas, políticos e empresários para debaterem gestão dos recursos hídricos

Na passada semana, entre quarta e quinta-feira, no auditório do Nerbe/Aebal, em Beja, reuniram-se vários especialistas de Portugal e de alguns países de língua oficial portuguesa, para debater a gestão dos recursos hídricos e dar a conhecer as mais recentes inovações científicas e tecnológicas, bem como as melhores práticas nacionais e internacionais na gestão da água.

Aníbal Fernandes

"Temos a solução. A água está cá. Temos é de a saber gerir bem". A afirmação é de Vera Eiró, da Entidade Reguladora dos Serviços de Aguas e Resíduos (Ersar) durante a III Energy and Climate Summit. O ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, numa participação por vídeo, foi taxativo: "O clima já mudou! Na última década registámos seis dos dez anos mais secos desde que há registos, há um século".

O governante renovou o empenho de Portugal atingir "a neutralidade carbónica em 2050" e informou que "em 2021 reduzimos as nossas emissões em 4,8 por cento em relação ao ano anterior", o mesmo valor da subida do PIB o que prova que "para crescer economicamente não é preciso poluir".

Duarte Cordeiro defendeu que, no período de instabilidade climática e geopolítica em que vivemos, urge aplicar dois verbos: mitigar e adaptar. Para o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Portugal tem de mostrar que "tem capacidade de produzir energia a partir do sol, do vento e do mar" e que isso "é um fator de atração de investimento. A sustentabilidade é amiga do crescimento", defendeu considerando que a redução de emissões no futuro "passa pela aposta no hidrogénio e nos gases renováveis produzidos a partir da biomassa ou resíduos. E tempo de cada um de nós sermos ousados e fazer o que ainda não foi feito", concluiu.

No mesmo sentido manifestou-se a presidente do Instituto Politécnico de Beja, Maria de Fátima Carvalho, exortando todos, individualmente, a conterem os ímpetos consumistas: "A mudança de hábitos pode contribuir para a poupança de água", disse, exemplificando que o consumo de carne de vaca - face a outros tipos de carne - implica um maior gasto de água.

Também a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, considerou que o desafio da gestão da água é responsabilidade de todos. "O cidadão é a tutela da água, porque nós - aqueles que definem e põem em prática a política pública -, somos apenas os responsáveis por garantir disponibilidades e por garantir mecanismos para o uso eficiente da água", afirmou no fecho da conferência.

Gestão otimizada

Para Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, "a temática que foi discutida durante este fórum é vital à escala planetária no século XXI. Todos nós temos de nos empenhar em fazer uma gestão otimizada dos recursos no sentido de a água disponível poder satisfazer as necessidades humanas, agrícolas e industriais, por forma a garantir o bem-estar da Humanidade", reforçou o autarca.

Nas conclusões da conferência, apresentadas por Hugo Xambre, administrador executivo da Águas do Tejo Atlântico, do grupo Águas de Portugal, este recordou que "poupar 15 por cento do desperdício do regadio, ou seja, a água de regadio que se perde, é ter a água necessária para o consumo doméstico, para o consumo humano durante um ano" reforçando que apesar de ser necessário "reduzir as perdas de água nos sistemas de abastecimento", as perdas no regadio "têm de ser o nosso foco".

Luís Loures, presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, um dos parceiros da organização do evento, vai no mesmo sentido. Numa entrevista ao semanário "Novo" explicou que "há sistemas com perdas enormes e que existe uma grande percentagem da água de consumo que se perde, mas se pensarmos na região onde estamos inseridos, que é o Alentejo, esta questão ganha contornos ainda mais graves. Estamos numa região agroindustrial, onde a agricultura é responsável por 80 por cento do total da água consumida e, infelizmente, ainda há uma percentagem muito grande (que depende da prática cultural e do sistema de rega implementado), mas onde perdas de 40 por cento podem colocar em causa o abastecimento humano por via de más práticas agrícolas".

O professor universitário diz que, quanto a soluções, existe uma corrente "que defende sistemas de armazenamento mais dispersos no território, de menores dimensões e para servir localmente determinado tipo de atividade; Por outro lado, "estamos a falar de um processo que já é praticado em países onde a seca é uma realidade extrema e aí não há outra forma de ter água potável que não seja dessalinizar. Este é um processo bem estudado mas que continua a ter um input de energia muito significativo. Todos assistimos àquele que é o problema energético mundial, com especial impacto na Europa, e estar a desviar energia para dessalinizar poderia estar a criar-se um problema para resolver outro", concluiu.

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Guardiões

O Projeto Guardiões-promovido pelo Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), em parceria com o Fórum da Energia e Clima (FEC) e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (Ccdra)-tem como objetivo sensibilizar e informar a sociedade civil para o problema das alterações climáticas, gerando conteúdos, promovendo ações e procurando apresentar soluções que possam fazer da região Alentejo um exemplo na descarbonização da economia e na transição para uma economia mais circular e sustentável.

 

Publicado por: Diário do Alentejo (https://blob.invisiblemeaning.com/files/articles/2022/10/28/1098c62d-9d08-455d-8142-82fd924fd46e/DAlentejo_28102022_510.pdf)

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